Por Ken Wilber


A Prática de Vida Integral é um processo de crescimento — individual ou coletivo ou ambos — que só se tornou possível na última uma ou duas décadas, por meio de alguns avanços incrivelmente emocionantes feitos pela Teoria Integral e outras disciplinas que envolvem as formas com que os seres humanos e organizações crescem, evoluem e se desenvolvem. Agora vou colocar alguns termos técnicos que você não precisa prestar atenção neste momento, mas vou apenas introduzi-los para registro e, em seguida, quando necessário, eu vou clara e suficientemente explicar o que precisamos saber para realizarmos essa prática. Uma Prática de Vida Integral geralmente envolve Estar Presente em todos os quatro quadrantes; Crescer até os níveis mais elevados de desenvolvimento; Abrir-se para as várias linhas de desenvolvimento; Despertar para estados superiores; e Purificar-se, ou florescer tanto em seus aspectos positivos como em seus aspectos negativos ou o conhecido “trabalho com a sombra”. Parece muito, sim? Mas o ponto é que esses vários processos estão ocorrendo agora, quer saibamos sobre eles ou não. Estes processos não são apenas teorias postuladas como uma espécie de especulações complicadas; são realidades baseadas em evidências que estão colidindo com todos nós a cada minuto de cada hora de cada dia. Estes processos não são coisas como uma “desconstrução”, que é uma conceituação teórica na qual dependendo do seu desejo você pode acreditar ou não. Estes processos são territórios realmente existentes, são realidades genuínas em nosso próprio ser, totalmente presentes e totalmente ativas em todos e cada um de nós.


A Prática de Vida Integral toma todos esses vários territórios — alguns dos quais conhecidos há séculos e alguns dos quais só foram descobertos nas últimas uma ou duas décadas  e os une em uma prática experiencial que favorece a auto-realização, o auto-desenvolvimento e o auto-crescimento, aproveitando todos esses enormes potenciais presentes em cada um dos indivíduos e, assim, permitindo que os indivíduos se tornem os melhores, mais brilhantes, mais desenvolvidos, mais amáveis, e mais sensíveis que possivelmente podem ser.


Isso vale a pena? Seguir esta prática realmente traz algo que seja importante ou benéfico? Bem, isso é para você decidir. O que vai acontecer é simplesmente isso, alguns de meus amigos e eu, que estamos convencidos de sua dignidade, vamos compartilhar com você uma série de exercícios diretos e práticas experienciais, para você experimentá-las por si mesmo. Quando as explicarmos, veja se elas fazem sentido para você; e se assim for, coloque em prática. Você não tem nada a perder e, a julgar pelo feedback que recebemos daqueles que o fizeram, provavelmente valerá muito a pena.


Então vamos começar, sim? Vários especialistas na Prática de Vida Integral estarão apresentando exercícios que cobrem uma ou mais áreas do Estar Presente, Crescer, Abrir-se, Despertar e Purificar-se. Hoje, vou me concentrar especialmente no Crescer e no Despertar, começando com o último.


Despertar é um processo encontrado em todo o mundo, e que muitas vezes remonta dois ou mais milênios, um processo de crescimento que leva ao que é conhecido como Iluminação, Despertar, Metamorfose ou Transformação, Moksha ou Libertação, a Grande Libertação. Praticamente todas as Grandes Religiões do mundo têm pelo menos dois aspectos, conhecidos como conhecimento exotérico ou externo, e esotérico ou conhecimento interno. Exotérico ou o conhecimento externo é geralmente uma série de histórias, muitas vezes mágicas e míticas, que pretendem explicar a origem do universo, dos seres humanos, muitas vezes em relação a um ser sobrenatural ou seres cheios de poderes miraculosos; e esse lado da religião geralmente envolve aprender como assumir um relacionamento correto com este Ser Supremo. É um sistema de crenças baseado em vários mitos freqüentemente transmitidos por séculos.


Mas o conhecimento esotérico ou interior não é um sistema de crenças míticas; é uma psicotecnologia da transformação da consciência. É uma ciência mental interior que visa uma experiência direta do que é dito ser a realidade última, resultando em uma tremenda realização de Iluminação ou Despertar. E isso não significa apenas pensar sobre uma realidade última, mas tornar-se identificado com essa realidade, em um estado que os sufis chamam de a “Identidade Suprema” — você, e a realidade última ou o próprio Espírito, são radicalmente um, e diz-se que essa percepção liberta o indivíduo do pecado original, da separação ou dualismo, de identificar-se apenas com este pequeno, finito, temporal, auto-contraído e separado self, e em vez disso leva o indivíduo a identificar-se com todo o Kosmos em toda a sua glória. Diz-se que esta é uma Libertação suprema porque, sendo um com o Todo, não há mais nada fora deste Self que poderia escravizá-lo; e também é uma plenitude final, precisamente porque você é realmente um com o Todo, sem nada fora de você para você desejar. Então este é o objetivo último daquilo que se chama Iluminação, ou a Suprema Identidade, Suprema Liberdade ou a Plenitude Radical, onde você experimenta uma unidade com o universo inteiro, acabando com todo sofrimento e miséria e introduzindo um mundo de felicidade, bem-estar e integridade aparentemente intermináveis. Soa um pouco distante, não é? Bem, vamos esperar e ver o que você pensa depois de fazermos as nossas práticas experimentais para você ter um vislumbre direto disso, por si mesmo.


Enquanto isso, podemos simplesmente observar que, como dissemos anteriormente, virtualmente todos as principais grandes religiões tem seus componentes e sistemas de crença externos, exotéricos, geralmente míticos, bem como estes aspectos mais interiores, esotéricos, meditativos ou contemplativos. Estas escolas esotéricas interiores formam os grandes sistemas meditativos e místicos encontrados em todo o mundo — no hinduísmo, temos Vedanta; no judaísmo, cabala e hassidismo; no Islã, Sufismo; no budismo, práticas centrais que levam ao nirvana ou à consciência iluminada; dentro Taoísmo, taoísmo contemplativo; no cristianismo, cristianismo místico e gnóstico, e assim por diante. E muitas vezes tem-se indicado, que todas as suas versões esotéricas mantêm essencialmente mesma verdade básica da Identidade Suprema — na parte mais profunda de você, você é um com o Espírito, você contém todo o universo. Tat tvam asi — Tu és isso, como o Upanishads hindus afirmam — na sua verdadeira natureza, você é um com todo o Fundamento do Ser.


Essa percepção é freqüentemente chamada de Despertar ou Libertação, porque nos liberta do sonho que somos apenas este pequeno self separado, essa auto-contração, esse ego ligado à pele, nascido apenas para viver, curtir um pouco, sofrer muito e morrer. Em vez disso, despertamos, nós acordamos, para a nossa realidade verdadeira, uma unidade unificada com o universo inteiro. E é esse processo de Despertar que é fundamental para as grandes Tradições de Sabedoria esotéricas do mundo.


Uma das versões mais conhecidas de uma prática de Despertar é conhecida como mindfulness. Esta prática está se tornando bastante popular no Ocidente, embora tenha se originado na Índia perto de três mil anos atrás. Mas é uma forma profunda, simples, direta e muito eficaz de Despertar. Também tem muitos, muitos benefícios e efeitos secundários, da melhoria da saúde, à redução de quadros depressivos, ao controle da pressão arterial, para o manejo significativo da dor, entre muitos outros — e está sendo promovida no Ocidente principalmente por esses muitos benefícios secundários, muitas vezes sem menção a Iluminação ou Despertar, embora seu propósito original fosse de fato (e ainda permanece) como um caminho do Despertar. Eu vou apresentar uma versão simples dessa prática em apenas um momento. Mas primeiro, deixe-me dizer para onde tudo isso está indo.


Despertar aponta para um profundo processo de crescimento espiritual nos seres humanos. E simplesmente note que, por mais estranho que pareça no início, essa prática e seus resultados não precisam ser colocado em termos espirituais. Eles podem ser descritos simplesmente como a percepção de nossos próprios e mais elevados potenciais; ou o despertar de nossos maiores talentos e capacidades; ou a percepção de nossa essencial unidade com toda a evolução; ou a melhoria de nossa saúde, felicidade e bem-estar; ou o encontro de  nosso Eu Verdadeiro, transpessoal e superconsciente; ou simplesmente o despertar de um mundo de sonho para uma realidade mais elevada e verdadeira, com uma consciência maior, focalizada no atemporal agora. Mas a experiência em si é geralmente tão profunda e arrebatadora que é muitas vezes descrita em termos espirituais, infinitos, eternos, profundos e absolutos — porque é isso que parece. Em outras palavras, a mesma experiência de iluminação pode ser interpretada de muitas, muitas maneiras diferentes — do secular ao espiritual e além, e tudo bem. Mas se você se sente incomodado por termos religiosos ou espirituais, não use-os, e não pense nisso nesses termos. Você não quer perder esta oportunidade só porque a questão é redigida com uma palavra que não funciona para você, então lembre-se disso. Essencialmente, há uma experiência mundial e universal desta realização no mundo esotérico, e as tradições são apenas uma evidência significativa da sua realidade, mas você não precisa ser apanhado em suas interpretações espirituais. Seja qual for a interpretação que funcione para você, tudo bem. A questão é simplesmente que temos acesso a essa realidade mais elevada, profunda e verdadeira, e é uma realidade que podemos praticar para realizar. Experiências semelhantes de Despertar são frequentemente vivenciadas nas experiências de quase morte, com alguns tipos de psicodélicos, espontaneamente na natureza ou enquanto ouve música ou faz amor. Mas aqueles que têm essas experiências estão quase universalmente convencido de sua profunda realidade; há pouca dúvida de que tiveram uma experiência próxima das dimensões últimas — e acho que você começará a ver o que isso significa quando entramos no real exercício experimental disso. Mas se você se sente incomodado por termos religiosos ou espirituais, apenas ignore-os, espere até que você tenha uma dessas experiências e escolha os termos que melhor funcionem para você. Eu realmente gostaria de ouvir os termos que você irá propor; então talvez tenhamos um tempinho para explorar isso.


Agora, dissemos que essa experiência da realidade suprema pode ser interpretada de muitos jeitos diferentes. E isso é um ponto muito importante, porque o papel crucial que a interpretação desempenha em todo o conhecimento e experiência só foi realizado muito recentemente, durante este último século. Anteriormente, durante a maior parte da nossa história, era comum diferenciar entre conhecimento e opinião. Opinião era algo que pode ou não ser verdade — é apenas baseado no seu palpite, ou na sua opinião. Mas o conhecimento era algo que era certo. Dizer que algo era conhecimento e não opinião significava que era definitivamente e universalmente verdade, verdade para todas as pessoas, todas as vezes. Foi apenas no século passado que começamos a perceber que muito do que uma cultura diz ser conhecimento — não necessariamente ou mesmo geralmente, com certeza — é muitas vezes uma verdade gerada apenas por essa cultura — é mais como se fosse uma opinião cultural, ao invés de um conhecimento universalmente verdadeiro. Não é um fato, é apenas um interpretação dos fatos.

 

Ao mesmo tempo em que isso estava sendo compreendido, as formas que os seres humanos criam suas várias interpretações também foram se tornando compreendidas pela primeira vez. O ponto básico aqui é que a capacidade de interpretação é algo que cresce; não é totalmente dada, completa e totalmente funcional, desde o início, mas sim cresce e se desenvolve ao longo do tempo. Quando os seres humanos nascem, a maioria de suas capacidades são muito subdesenvolvidas e seu conhecimento real, muito pequeno, mínimo. Então o ser humano passa por numerosos processos de desenvolvimento, um processo de desenvolvimento que leva a pessoa de imatura e pouco desenvolvida a níveis mais maduros e mais desenvolvidos, e finalmente para estágios de grande maturidade e máximo desenvolvimento — de alguma forma, isso é o que se espera.


Assim, por exemplo, vejamos o desenvolvimento moral de uma pessoa. Um bebê ao nascer tem pouco ou nenhum tipo de princípio moral formado; ele é governado por instintos e desejos. No desenvolvimento moral, estes são os chamados estágios prematuros. À medida que o ser humano continua a crescer, e eventualmente se move para uma série de etapas determinadas pela cultura em que está; adota o que seu clã ou tribo ou nação considera estar certo e errado, bem e mal. Esses estágios são conhecidos como estágios convencionais ou conformistas — “meu país, certo ou errado”, “lei e ordem”. Assim, o indivíduo continua crescendo, indo além do que foi ensinado por sua cultura e começa pensar por si mesmo, usando princípios morais mais universais e mundiais. Esses estágios são chamados “pós-conformistas” ou “pós-convencionais”: eles são “pós” ou “além” da cultura estreita e são mais globais em termos de perspectiva. Agora em cada um desses estágios, quando confrontado com um problema ou questão moral, o ser humano interpretará essa problema — e sua solução — de acordo com o estágio moral de crescimento em que se encontram. Alguém em estágios pré-convencionais dará respostas muito egocêntricas e egoístas: “O que é certo é o que eu digo que é certo”. Irá querer os brinquedos de outras crianças, sem a noção sobre se isso é algo certo ou errado. Num nível acima, alguém em estágios conformistas irá mover-se além de seus próprios desejos egoístas e começará a se identificar com os desejos de seu grupo primário, mas somente esse grupo — eles serão a favor de sua tribo ou o seu grupo ou a sua nação, e verá todos os outros grupos como ameaçadores dos quais precisa se defender — novamente, “meu país, certo ou errado”. Mas esse grupo primário não pode cometer erros — as opiniões são tomadas como um conhecimento absolutamente verdadeiro, nem mesmo devem ou podem serem questionadas. E num nível mais elevado ainda, alguém em fases pós-convencionais dará respostas que tratam todos humanos de forma justa, independentemente de raça, cor, sexo ou credo — não apenas o grupo, mas todos possíveis grupos. Então de egocêntrico (centrado somente no eu) ao etnocêntrico (centrado no grupo próximo) para mundicêntrico (centrado em todos os seres humanos); de “eu” para “nós” para “todos nós” nossa moral fica maior e maior e maior, por assim dizer. Esta é claramente uma expansão de consciência, uma expansão da identidade (“eu” para “nós” para “todos nós”), e assim uma extensão da preocupação moral (de apenas eu, para apenas o meu grupo, para todos os grupos, todos os seres humanos) e, portanto, um aumento da capacidade de amar também. Claramente, algo muito importante está acontecendo com este processo de maturação.


Agora, todo esse processo é o que chamamos de “Crescimento”. Um ser humano tem um grande número de capacidades e numerosas inteligências diferentes, e virtualmente todas elas estão sujeitos ao crescimento e desenvolvimento — todas elas estão sujeitas ao Crescimento. E em cada estágio do Crescimento, você interpretará o mundo de maneira diferente. Acabamos de ver isso em termos de desenvolvimento moral, uma pessoa passará de uma visão egocêntrica para uma visão etnocêntrica então para uma visão mundicêntrica ou baseada em todos os grupos ou todos os seres humanos de forma justa. E cada estágio pensa que somente sua verdade e valores e pontos de vista são verdadeiramente existentes e bons; todos os outros são inadequados, patéticos ou simplesmente errados. Voltaremos a esse ponto mais a frente, pois isso é importante.


Há cerca de um século, esses vários estágios de desenvolvimento começaram a ser explorados e estudados — esse movimento geral do egocêntrico (“apenas eu”) para etnocêntrico (“apenas nós”) para mundicêntrico (“todos nós”). Em nossa história geral, a compreensão do caminho do Crescimento é uma descoberta e investigação relativamente recente. Algumas formas de Despertar, por exemplo, foram estudadas e praticadas a mais dois ou três mil anos (muitas vezes mais); mas o estudo real das etapas do caminho do Crescimento estão sendo estudadas apenas a cerca de 100 anos. Por que há essa grande diferença — 3000 anos ou mais contra meros cem anos?


A principal razão é que quando você está em um profundo estado meditativo ou místico ou vivenciando uma Experiência de Despertar — sendo um com o universo inteiro — você sabe disso através de sua experiência imediata e direta. Há poucas dúvidas sobre isso. Mas isso não é verdade com estes estágios do crescimento; eles são mais como as regras da gramática em todas línguas. Fique comigo aqui por apenas um minuto. Alguém nascido em uma cultura particular acabará falando a sua linguagem de forma correta — essas pessoas juntam sujeito e verbo corretamente, elas usam adjetivos e advérbios corretamente, e em geral seguem as regras da gramática de sua língua corretamente. Mas se você pedir para alguma dessas pessoas anotar essas regras da gramática que estão utilizando, praticamente ninguém conseguirá fazê-lo. Elas estão seguindo estes grandes sistemas de gramática, mas nenhuma delas sabe que o estão fazendo, e muito menos o que essas regras são.


Esses estágios gerais de desenvolvimento do caminho do Crescimento são como a gramática. Enquanto você está em um estágio específico de desenvolvimento, você segue as regras e padrões deste estágio com bastante precisão, mas você não tem idea de que está fazendo isso. Alguém no estágio moral conformista de desenvolvimento, pensará que suas ideias são exatamente como as coisas devem ser; eles não têm o entendimento de que tiraram essas ideias de sua cultura. E não há nada em suas ideias que os alertarão sobre esse fato. Como a gramática, você não consegue ver esses estágios através de introspecção ou olhando para dentro de si mesmo. Eles são os mapas ocultos que usamos para navegar no território em que nos encontramos, e não temos ideia de que os estamos usando. Nós pensamos que nosso mapas são o próprio território. Nós estamos olhando o mundo através deles, nós não estamos olhando para eles. E assim, nós nem mesmo sabemos que eles estão lá. E nós definitivamente confundimos mapa e o território — e isso não é bom.


E é por isso que não podemos descobrir esses estágios básicos de crescimento e desenvolvimento, esses mapas ocultos, apenas olhando para dentro. Nós poderíamos nos sentar com nossos mapas de meditação por 20 anos, olhando para dentro, e nunca ver nenhuma dessas regras da gramática — nem nenhum desses mapas ocultos de desenvolvimento. Para descobrir isso, os cientistas têm que estudar grandes grupos de pessoas ao longo de muitos anos, acompanhar e gravar seus vários movimentos de desenvolvimentos e, em seguida, descobrir exatamente quais são as regras e padrões que cada estágio está seguindo. E precisamente porque  você não pode ver esses estágios simplesmente olhando para dentro, nem um único sistema de meditação ou caminho espiritual em qualquer lugar do mundo possui algum entendimento sobre qualquer um desses estágios do Crescimento. Estágios do Despertar, sim, você pode ver isso olhando para dentro. Mas estágios do Crescimento, não. E alguns de nossos modelos de Crescimento têm 5 estágios, 7 estágios, 12 estágios ou mais — e não há um único sistema espiritual em qualquer lugar do mundo, não importa quão antigo ou novo, que tenha alguma coisa como qualquer uma dessas seqüências de desenvolvimento. Estes estágios detalhados do Crescimento são de fato uma descoberta muito recente — outra razão pela qual nenhuma religião em qualquer lugar tem algo parecido com isso. Assim, eu acho que você pode começar a ver o problema aqui.


Agora, sendo justo, as muitas escolas de psicologia do desenvolvimento que estudam esses estágios do Crescimento — principalmente as escolas psicológicas e sociológicas ocidentais — embora elas tenham uma compreensão bastante detalhada dos principais estágios do Crescimento, praticamente nenhuma delas tem nada como Despertar ou sobre os estágios que conduzem ao Despertar e a Iluminação. A razão para isto é que, como uma aquisição bastante permanente, o estado do Despertar é geralmente o resultado de muitos anos de uma prática específica — meditação ou contemplação ou yoga ou práticas de oração contemplativa ou auto-realização, e assim por diante. Poucas pessoas, certamente no Ocidente, dedicam grande parte de seu tempo a essas práticas (mesmo que elas saibam sobre isso). Assim, quando os pesquisadores ocidentais começaram estudando os vários estágios de desenvolvimento que estavam presentes em qualquer população típica, eles encontraram muitos exemplos de pessoas em praticamente todos os vários estágios do Crescimento — um processo natural e normal de amadurecimento que ocorrerá em algum grau, quer você trabalhe muito ou não; mas os pesquisadores descobriram muito poucas pessoas, se alguma, que estavam permanentemente no estado do Despertar (e quando acharam alguém neste estado, eles não sabiam como compreender e assim simplesmente o ignoraram). Portanto, há muito poucos, se houver, grandes modelos ocidentais de desenvolvimento que têm algo como Iluminação, Despertar, Moksha ou Libertação, Unidade, Satori ou a Identidade Suprema.


Então a humanidade está hoje — e tem estado ao longo de toda a sua história até este ponto — em uma situação muito estranha. Temos pelo menos esses dois grandes caminhos de desenvolvimento — um caminho do Crescimento e um caminho do Despertar. Mas nunca os dois caminhos foram praticado juntos. Isso significa que a humanidade tem praticamente tem sido parcial, limitada, fragmentada — e virtualmente desde o primeiro dia. Em resumo, a humanidade tem se mantido fragmentada. E toda a história é uma história da fragmentação da humanidade. Foi somente na última década que percebemos que temos ambos desses caminhos de crescimento, e que ambos são incrivelmente importantes e verdadeiramente necessários se quisermos ser seres humanos plenamente desenvolvidos e verdadeiramente inteiros. E isso nos abre muitas possibilidades para um futuro inteiramente novo e radicalmente inovador, como nós nunca antes vimos.


E isso, em uma frase, é o objetivo da Prática de Vida Integral — combinar o melhor dos caminhos do Crescimento com o melhor dos caminhos do Despertar. Claro que nós incluímos alguns outros territórios também (como Estar Presente e Purificar-se, como veremos). Mas os caminhos do Crescimento e do Despertar são verdadeiramente centrais, não apenas para Prática de Vida Integral, mas para a própria Vida, para ser um ser humano completo e pleno, Não importa qual outra atividade, disciplina ou caminho com o qual você esteja envolvido. E tão incrível quanto pode soar, foi apenas na última década que a humanidade teve essa possibilidade disponibilizada — a possibilidade de incluir e praticar ambos os caminhos do Crescimento e do Despertar. Isso em si é verdadeiramente extraordinário, até mesmo revolucionário.


Agora, para se tornar um ser humano verdadeiramente completo e pleno — ou simplesmente entender o que tudo isso pode significar, se isso fizer algum sentido para você — iremos explorar mais alguns detalhes. Assim, chegaremos às práticas reais em ambos os caminhos do Crescimento e do Despertar, para que você possa experimentar estes caminhos e diretamente decidir por si mesmo. OK?


Vamos começar examinando mais alguns pontos sobre isso. Há relativamente pouco tempo o caminho do Crescimento foi descoberto. Como dissemos, todo ser humano tem potencial para numerosas capacidades, talentos e inteligências com as quais eles nascem. Antigamente, pensava-se que um ser humano tinha um único tipo de inteligência — geralmente chamado de inteligência cognitiva a qual era medida com o importantíssimo teste de QI. Mas, mais recentemente, e cada vez mais, se percebeu que os seres humanos têm o que o psicólogo de Harvard, Howard Gardner, chamou de inteligências múltiplas — ou seja, não temos apenas a inteligência cognitiva, mas também outras inteligências — inteligência moral, inteligência lingüística, inteligência intrapessoal e assim por diante. Às vezes, essas inteligências também são chamadas de linhas de desenvolvimento ou apenas linhas (como em “todos os quadrantes, todos os níveis, todas as linhas, todos estados, todos os tipos ”— que é como esta versão da Teoria Integral muitas vezes tecnicamente se referente a esse elemento). Mas há uma descoberta igualmente importante que acompanha todos essas inteligências ou linhas. Por mais diferentes que sejam essas linhas múltiplas, elas crescem e se desenvolvem através dos mesmos níveis básicos de desenvolvimento. Ou seja, linhas diferentes, mesmo níveis.


Então, exatamente quantos níveis ou estágios do desenvolvimento global do Crescimento há? Em certo sentido, a resposta a isso é um pouco arbitrária. É como medir a temperatura de, digamos, um copo de água. Nós podemos dar a resposta em termos de graus Centígrados, Fahrenheit ou Kelvin, entre outros. Se a água estiver fervendo, podemos dizer que isso acontece aos 100 graus Centígrados. Se for em graus Fahrenheit será aos 212 graus e em graus Kelvin diremos perto de 700 graus Kelvin. Qual é o correto? Claramente, eles estão todos corretos, só depende do quanto você quer detalhar, pois os graus Fahrenheit tem cerca de duas vezes mais graus ou estágios entre o congelamento e a ebulição, comparado com a escala Centígrada, e a escala Kelvin 4 ou 5 vezes mais. Você só tem que dizer qual escala você está usando. O mesmo se aplica aos estágios gerais ou níveis de desenvolvimento. Existem modelos que dão 3 estágios básicos, alguns dão 5, uns 9 ou 12, outros mais ainda. Mas se você pegar todos os modelos disponíveis e colocá-los todos juntos, o que você encontrará na maioria das vezes é essencialmente os mesmos 6 a 8 níveis básicos de desenvolvimento. No meu livro Psicologia Integral comparei mais de 100 diferentes modelos de desenvolvimento, e na maioria desses, os mesmos 6 a 8 níveis continuam aparecendo de novo e de novo. Mais uma vez, isso não significa que os outros modelos estão errados; é mais uma questão de quanto detalhe você quer; e os modelos mais comumente usados são esses de 6 a 8 níveis básicos de desenvolvimento. Nós vamos passar por cada um desses mapas em apenas um momento, para que você possa ver claramente como cada um deles é (e em qual desses níveis você está na maior parte do tempo — uma descoberta que pode surpreendê-lo).


Agora, o ponto principal é simplesmente que esses níveis de desenvolvimento são de fato muito importantes, porque de muitas e muitas maneiras, as próprias visões, ideias e experiências que você tem da realidade a qualquer momento são em grande medida moldadas, ou mesmo determinadas, pelo nível de desenvolvimento em que você está (em qualquer das suas múltiplas inteligências). Saber seu nível de desenvolvimento é tão importante que até ajudará a determinar como você experimenta algo como o Despertar. E, no entanto, a maioria de nós nem sequer sabe que temos esses níveis desenvolvimento, e muito menos como isso atua em nós mesmos — eles realmente são mapas ocultos, assim como gramática. E algumas pessoas ficam bastante irritadas quando algo assim é mencionado — elas, compreensivelmente, não querem ser informadas de que o que elas tomam como pensamentos originais são, em muitos aspectos, determinados em grande parte pelos mapas ocultos, extraídos de sua cultura, mapas esses que governam suas interpretações da realidade. E variações destes níveis do Crescimento foram pesquisados em tribos da floresta amazônica, aos aborígines australianos, nos trabalhadores mexicanos, nos cidadãos russos, até as donas de casa de Illinois, e nenhuma grande exceção foi encontrada no que diz respeito a existência destes níveis. Assim, nós vamos passar por todos os principais níveis de desenvolvimento, e indicar claramente como você pode entender cada um deles em sua própria consciência agora, obtendo assim algum grau de liberdade sobre o controle que esses mapas têm sobre você neste momento. Então essa é uma razão crucial para nos tornarmos conscientes desses estágios ou níveis em nosso caminho geral do Crescimento — para assim acelerarmos o processo de desidentificação com esses mapas, facilitando o nosso próprio processo de crescimento e desenvolvimento. E, para essa desidentificação, vamos usar, de maneira central, mindfulness — assim, pela primeira vez, reunindo os aspectos do Crescimento e do Despertar em uma prática integrada e unificada.

 


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